Autor(a): Bru Sherry
Gênero: Romance/ Suspense
Classificação: Livre
Capítulos: Aproximadamente 5 (cinco)
Ás vezes, as pessoas não conhecem ou simplesmente não entendem o motivo de não confiar em ninguém que não conhecem. Queria eu ter dado ouvidos a quem disse-me outrora a respeito de manter-se longe do que não sabemos sua origem. Seja um objeto, um ser humano... Ou não.
CAPÍTULO I - PRIMEIRO NOME
A frase "A Repetição Não Transforma Uma Mentira Numa Verdade" de Roosevelt, de repente, e naquele preciso momento, fazia eu sentir um ódio ainda maior por mim mesma...
Era manhã de inverno. Um temporal de destelhar casas tomara conta do tempo, forte demais; de engolir um desfiladeiro inteiro em segundos. Muita neve cobriu quase toda a cidade de Ottawa, localizada na porção leste da província de Ontário. Via-se apenas o branco do gelo tomar conta de tudo. Mas realmente um deleite para os olhos. Eu não me movi um centímetro do aconchegante sofá de couro marrom, perto da lareira ardente em fogo; a madeira sendo consumida rapidamente pela quentura extrema do fogaréu me aquecia perfeitamente bem. Mas o que é bom, muitas vezes dura apenas alguns instantes. A campainha tocava desesperadamente, como se estivesse sendo torturada por mãos tão destrutivas quanto uma arma de fogo. Deixei cair no chão meu edredom de linho fino, para verificar o que estava errado. Uma grande surpresa e de olhos arregalados me esperava ansiosamente quando abri a porta.
-O que faz aqui, Daniel? – Meu visinho desmiolado de dezoito anos me perturbava quase todos os dias aquele horário. – você faz idéia de que horas são?
-Desculpe, mas precisava vir correndo! Ele estava ofegante.
-Então, respire fundo e me explique por que diabos você veio aqui...
-Tudo bem. - Ele fez uma pequena pausa e continuou. – Eu vi uma coisa muito estranha além daquelas árvores. Ele apontou para a floresta a cerca de um quilômetro dali.
-Daniel, é claro que você viu alguma coisa. É uma floresta.
-Não parecia normal. – Ele respirou fundo de novo. – Era enorme!
-Ah que piada mais sem graça! Acho melhor você voltar para casa, por que a mudança do clima esta afetando a sua mente.
-Não estou brincando com você, É SÉRIO! Ele agora gritava.
-Calminha ai meu jovem – Eu enfatizei a última palavra, como se tivesse muito mais idade do que ele – Eu não passava de uma adolescente de dezessete anos.- Não é a primeira vez que você bate á minha porta para dizer asneiras como essa, então como pode achar que desta vez vou confiar nas suas suposições imaginárias?
-Não são suposições, eu os vi com meus próprios olhos!
-Espere ai, você “os viu”? Como assim?
-Viu, você acredita em mim...
-Eu não disse que acredito em você, apenas despertei certa curiosidade... Eu revirei as órbitas.
-Se você vier comigo, eu mostro a você...
-Nem pensar que vou sair daqui. Ouvi hoje pela madrugada no rádio que a nevada vai piorar até as seis da tarde mais ou menos.
-Por favor!
-NÃOO!
Eu tranquei a porta na cara dele imediatamente, antes que continuasse com suas ilusórias invenções mentais. Estava cansada desse menino perturbado. Não me admirava que fosse assim, uma vez que seus pais tinham certo distúrbio. Ele ficou por dois anos inteiros em um colégio interno no Kansas, e aquele fora o resultado.
Voltei para meu cantinho perfeito. Sentia muita pena dele, mas não podia lhe dar motivos para me infortunar. Mas para Daniel, a batalha ainda não estava perdida. Ele continuou a tocar a campainha.
-Já chega! Vá para casa garoto! Voltei para abrir a porta.
-Enquanto você não for comigo até lá, não vou parar de tocar a campainha! E continuou com o dedo no botão, fazendo um barulho ensurdecedor.
-Você parece um bebezinho!
-E então, vai comigo?
-Anda logo vai, mas vou avisando, está me devendo essa, e vou cobrar juros!
-Pare de falar e tenha atitude. Pegue a espingarda do seu avô.
-O que puseram no seu leite matinal, posso saber?
-Chega de brincadeira! Quando seus olhos se esbugalharem ao ver a criatura, me dará todo o crédito, e me agradecerá por lhe indicar a arma.
-Você tem certeza de que uma arma é realmente necessária? Eu estava de braços cruzados e estarrecida na frente dele.
-Pegue logo!
-Tudo bem.
Entrei em casa e fui direto ao sótão, buscar a espingarda de caça do meu avô. Ele me mataria se soubesse o que estava prestes a fazer. E claro que ele daria falta do objeto, se caso eu me esquecesse de colocar exatamente como estava no lugar onde havia guardado.
-VAMOS LOGO SOPHIA! Ele berrou lá da varanda. A vizinhança provavelmente ouviu os gritos dele.
Desci desesperadamente com a arma em uma das mãos e um casaco de pele na outra. Amarrei meus cadarços bem apertados, para não perdê-los na neve, e coloquei uma touca na cabeça.
-Os vizinhos ficarão muito curiosos ao me verem carregando uma arma, sabia?
-E quem se importa?
-Eu me importo. E se meu avô descobrir...
-Ele não vai descobrir nada. Voltaremos antes de ele chegar. Estou levando um relógio, - Ele tirou das costas a mochila, e me mostrou todas as bugigangas que levava consigo. - uma lanterna, oito metros de cordas, veneno para matar ratos, e finalmente uma estaca de prata. – Só o básico.
-Veneno para matar ratos... Estaca de prata? O que acha que tem na floresta? Um enorme ninho de ratos e um covil do Drácula? Eu ri ironicamente.
-Só estou me prevenindo sua imatura. Ele ficou bravo.
-Imatura? Eu? Qual é.
-Vamos logo. Antes que anoiteça.
-O seu relógio está quebrado ou o quê? É nove da manhã, seu lunático.
-Deixe as cerimônias para depois.
Ele começou a correr em direção à floresta, gritando “não banque a menininha agora”, por que eu estava contando meus passos, pousando os pés no chão, um a um, enquanto ele saia disparado na frente. “Que babaca” eu pensei.
Nos aproximamos rapidamente do lugar onde Daniel disse que tinha “os visto”. Eu definitivamente havia enlouquecido de vez por ter topado em participar dessa loucura com um lunático como ele.
-E então? Eu perguntei assim que paramos. Eu estava meio ofegante por causa da corrida.
-Venha. –Ele correu em direção a uma árvore gigantesca. - Se esconda aqui comigo! Ele sussurrou.
-Ta bom.
Fui pacientemente em direção a ele, quando ouvi uivos rasgarem o silêncio da floresta ao longe. Meu coração bateu tão mais rápido, que pensei por um instante que poderia enfartar. Então corri e me escondi atrás de Daniel e engatilhei a espingarda.
-O que será isso? Eu perguntei apreensiva.
-Hum, agora você está com “medinho” é? Ele riu.
-Isso não tem graça nenhuma. – Eu espiei por trás dos ombros dele. – Você já pensou por um minuto que essa sua “aventurinha” pode nos matar?
-Ah deixa de se frouxa menina!
-Olha quem fala! Você se esqueceu da festa do senhor Jonas na semana passada?
-Isso não tem nada a ver com o incidente da churrasqueira.
-Não fui eu quem quase morreu do coração quando ele descobriu quem colocou os camundongos dentro da churrasqueira. Eu zombei dele.
-A- a - aquilo Fo - foi um... Acidente! Ele gaguejou de vergonha.
-Hum, sei disso!
-Agora pare de falar e ouça. Os uivos cessaram!
Antes de responder, eu prestei bem mais atenção ao silêncio que se fez quando paramos de falar. Eu sempre gostei de adrenalina, como em um filme de ação de Rambo, ou Rocky Balboa, mas não com tanta intensidade como naquela manhã. Não estava nenhum pouco a fim de arriscar a vida.
-Olha, não vou mentir, estou ficando apavorada! E se for algum animal faminto? Eu cutuquei seu ombro, mas ele não reagiu. Ele continuava com a atenção no silêncio.
-Já chega! Eu vou embora!
Eu me levantei, mas ele segurou em meu braço, me fazendo cair no chão com sua força.
-Pare de frescura Sophia!
Quando me levantei novamente, um homem alto e robusto apareceu por dentre os arbustos, assustando a nós dois. Era um vizinho que morava no fim da rua , próximo a minha casa. Jason Foster, um caçador implacável como ele se auto intitulava. Para mim, ele não passava de um bêbado.
-O que fazem aqui crianças? Vão para casa. Essa floresta é perigosa!
Suas palavras pareciam perfurar minha pele como uma ponta de faca afiada sendo passada fortemente sobre ela. Não sabia se havia ficado mais apavorada pelo que ele havia dito ou por sua aparência pavorosa.
-Senhor F – Foster? Eu gaguejei de medo ao pronunciar seu nome.
-Vão embora! Esse não é lugar para vocês se meterem a super-heróis.
-A culpa é toda sua seu idiota! Eu dei um soco no braço de Daniel.
-Ai! Isso dói! Ele passou a mão no lugar onde eu o havia socado.
-Vão! Vão! Jason começou a gritar.
Nós saímos disparado dali. Corri em direção a minha casa e Daniel me seguiu. Não olhamos para trás, mas senti que Jason nos fitava furiosamente, como fez quando havia nos encontrado pouco tempo antes.
-Então, o monstro que você... Viu era o senhor... Foster? Eu estava ofegante quando paramos de correr. Já estávamos em frente a minha casa.
-Deixe de... Brincadeira... Claro que não era ele! Daniel também estava ofegante.
-Nunca mais me infortune de novo! Eu gritei com ele.
-Sophia eu não estou brincando, e você mesma ouviu o uivo!
-Poderia ser um lobo ou algum animal faminto, não pensou nessa hipótese?
-Não parecia um uivo comum. Ele repousou a mochila pesada na varanda.
-Então você é perito no quesito animais selvagens agora? -Eu sentei no chão para poder respirar melhor. - Ai Não! –Me lembrei de que havia deixado a espingarda na floresta. –Mas que droga!
-O que foi? Ele respondeu pouco entusiasmado.
-Deixei a arma lá! E agora? Eu fiquei desolada só de pensar que voltaria para a densa selva de novo.
-Ué, volte e pegue-a. Simples assim! Ele realmente estava pouco ligando para minha inquietação.
-Corrigindo, voltemos lá! Você está incluso no segundo round!
-Não, obrigado pela oferta, mas já está tarde! Tenho que ir!
-O que? Não senhor, você vai voltar lá comigo.
Enquanto eu terminava a frase, ele saiu correndo, pegando a mochila do chão desesperadamente e seguia em direção à sua casa. Eu gritava seu nome, xingando algumas palavras um tanto inapropriadas, mas nem mesmo meu medo exposto de voltar à floresta o fez recuar. “Idiota!” eu murmurei comigo mesma, enquanto voltava a percorrer lentamente o mesmo caminho que havia feito a menos de dez minutos. Eu não queria me arriscar novamente, mas meu fim seria bem pior se eu deixasse a arma do meu avô perdida na selva escura e tenebrosa. Procurei afastar dos pensamentos o medo que a cada segundo e passo dado, martelavam minha mente, e me deixava desnorteada. Respirava fundo sempre que o pavor insistia em voltar, eriçando os pêlos das minhas costas, e então a tensão se esvaía por alguns instantes. Eu avistei de longe a espingarda, jogada no chão ao lado da árvore onde Daniel e eu estávamos escondidos. Caminhei devagar até chegar ao encontro da arma. Senti que alguma coisa se aproximava por trás e temi que fosse mesmo algum animal enorme e faminto. “Se eu morrer, volto só para assombrar aquele infeliz” eu pensei apavorada.
-Oi coração, não tenha medo! Uma voz masculina sussurrou bem rente ao meu ouvido. Quando me virei, um garoto bem forte e de estatura mediana, de cabelos arrepiados se aproximou de mim sem que eu percebesse sua aproximação.
-Ai que susto – eu disse a ele segurando a região onde meu coração quase saltava para fora. – você quer me matar do coração?
-Calma eu não vou morder. Ele disse sarcástico.
-Cala a boca Seth! Outra voz masculina se aproximou por trás de algumas árvores. Mas a voz era um pouco mais firme diferente da voz do garoto que me dera o susto. Ele se aproximou um pouco mais, dando uma sacudidela no menino mais baixo. Ele era mais forte, alto e seu cabelo mais curto. E dono de uma beleza visível, por sinal.
-Foi mal Jake – disse Seth. – é que eu pensei ter visto um dos grandes (Ele referia-se a um enorme urso, que eles estavam tentando pegar a horas).
-Sua visão está bem prejudicada então. Zombou Jake.
-Garotos, - eu finalmente me manifestei. – posso saber o que fazem aqui, e sem roupas adequadas para um frio de menos vinte graus?
-Estávamos caçando! Seth disse todo animado.
-Ah, desculpe a indelicadeza, eu sou Jacob Black, e esse é Seth Clearwater!
-Você pode me chamar do que quiser, coração! Disse o mais baixo.
Eu ergui minha mão para cumprimentar Jacob. Mas ainda estava muito desconfiada daqueles dois.
-Meu nome é Sophia.
-Muito prazer! Os dois disseram ao mesmo tempo.
-Bom, vocês não responderam minha pergunta. Eu os lembrei.
Eles se entreolharam sorridentes, como se estivessem por dizer alguma calúnia. “Que garotos estranhos” eu pensei, e duvidava que eles morassem pelas redondezas. “Eles não estão sentindo frio?” era o que martirizava minha cabeça.
-É que... Estávamos caçando e... Deu-nos um pouco de calor! Disse Jacob, tentando camuflar alguma verdade.
-Finjo que acredito! Admiti.
-E você o que faz aqui? Ele perguntou desviando-se do meu questionamento.
-Na verdade, eu não estava sozinha, vim até aqui por que meu vizinho idio... Quer dizer simpático me trouxe aqui para ver alguma criatura grande e desconhecida que ele havia visto.
-Hum – Jacob cruzou os braços e apoiou uma das mãos embaixo do queixo, como se estivesse analisando o que eu disse. – Que tipo de criatura?
Com toda a certeza do mundo, ele me achava uma tremenda estúpida por dizer aquilo.
-Eu não sei, não foi eu ter avistado o monstro. - Eu respondi com rispidez. – Agora, se me derem licença, vou embora.
-Sophia – Jacob chamou-me carinhosamente. – Posso lhe perguntar uma coisa?
Sim, claro! Eu afirmei rudemente.
-Estamos em que parte de Ontário?
-No extremo leste, por quê?
-Por nada! Curiosidade!
-Coração – Seth começou a cantarolar. – não acha que esse lugar é perigoso para você?
-Em primeiro lugar, - fiquei irritada. – meu nome é Sophia, e não é da sua conta se eu estou aqui! Eu respondi furiosa.
-Desculpe-me por Seth, ele é inconveniente! Jacob se desculpou pelo amigo insensível.
-Tudo bem.
-Desculpe coração! Seth respondeu brincando com minha irritação.
(End of First Chapter)