Meus Pensamentos

Meus Pensamentos

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

DO ABISMO



Quando a gente olha para trás, e relembra os tempos de antigamente, quando éramos apenas jovens com sede de conhecer o que há lá fora, sentimos falta desses mesmos tempos. E tudo o que nos resta quando atingimos a idade do saber, são apenas míseras lembranças, poucas até, mas que nos marcam para sempre.

Todas as fotos que tentamos esconder, sempre estão ali no mesmo lugar onde as deixamos guardadas. Encontram-se dentro de uma caixa de sapatos de mais de cem anos, todas empoeiradas em cima da estante, esperando mais um pouco até que nos bate a velha saudade e as retiramos de lá para podermos recordar de tudo novamente. De tudo o que foi bom, ou simplesmente inesquecível, ou quando nos desesperamos por algo terrível que algum dia passamos, mas elas sempre estão ali, para nos fazer lembrar de quem fomos um dia.

É uma pena quando deixamos de acreditar em nós mesmos, e fingimos ser outra pessoa, para não assumir a desprezível criatura que existe em nós. E há aqueles que têm a ousadia de duvidar e discordar de nossas teorias!

Eu ainda faço-me a mesma pergunta, que me atormenta dia e noite, desde quando decidi me tornar um alguém desconhecido para mim mesma: Será que isso está valendo a pena para você? Inútil!

Não descobri aonde errei, e muito menos sei como começar a procurar meu eu verdadeiro, que a muito esqueci. Tento transpor minha dor através de gestos que não estão mais surtindo efeito, e mais do que isso, rebate contra meu peito, fazendo doer ainda mais.

Quantas e quantas vezes sentei nesta mesma cadeira, e olhei para a tela do mesmo computador, e tentei expor meu sofrimento, através de odiosas declarações, e no fim sempre fracassei!

Há mais uma página de arrependimento sendo escrita neste momento, mas não há quem a decifre. Não há quem descubra a saída.

Os dias que antecedem meu fim parecem não querer cessar; são dias e noites de puro tormento e conflito interior, se cravando em cada partícula do meu ser.

Não tenho sangue inocente nas mãos, mas o vejo sendo derramado de mim a todo o momento, e não posso pedir socorro. Não tenho a quem recorrer e pedir um simples abraço sincero. Só existe maldade e falsidade em tudo o que vejo.

O que mais terei de sacrificar para continuar procurando meu eu? O que devo abandonar para continuar vasculhando o excremento, a fim de me localizar?

Dizem por aí que não fui fria e calculista o suficiente; jogam toda a culpa em cima de meus fracos ombros já gastos pelo tempo. Mas eu sei qual é a verdade, sei também o que fazer com os traidores. Eu só não sei o que fazer comigo mesma, e me sinto ainda mais perdida em toda a confusão ao meu redor.

A carta de papel surrado e desgastado pelo tempo ao qual escrevi quando eu ainda era eu, se encontra guardada no mesmo lugar que a escondi. Não era de muita importância até alguns invernos atrás, mas agora faz toda a diferença.

Eu a escrevi quando causaram-me uma tristeza significativa, em um passado não tão distante. Eram palavras maliciosas e terríveis para uma garotinha de apenas onze anos.

Desenvolvi uma habilidade sem igual com as palavras desde muito nova. Não é de se contestar quando descobrimos nossos dons especiais: todos nascem com alguma coisa a se acrescentar no mundo! Alguns desenvolvem a inteligência para coisas boas e construtivas, e outros desenvolvem o mal, explícito em livros sagrados da antiguidade.

Eu poderia continuar por horas e horas descrevendo um pouco de cada coisa que eu conheço, sem me cansar ou sentir fome e sede, sem sono... Sem fim. Mas esse não é o real motivo pelo qual descrevo tanta dor. Por sobre cada palavra aqui descrita, encontra-se uma partícula de horror, a poucos metros de distância.

"Ela, a moça, por sua vez, não fora tão forte quanto achava que fosse, e todos ao seu redor desesperaram-se quando ouviram seu triste fim. Deram-lhe todas as ferramentas para que pudesse escapar, e respirar um novo ar, puro e tranquilo novamente, mas não lhe disseram como as usar, e então o escape da dor viera à tona, sobre suas mãos frias e atormentadas", pensei!

É insignificante qualquer tentativa de se aliviar deste mesmo mal, quando não há expectativas, ou mesmo a saída, pois este sofrimento repousa sobre nossas costas cansadas, e nos acompanha por uma eternidade.

Dei-lhe a oportunidade de fugir sem nada nas mãos; disse que não seria necessário causar-me transtornos maiores. ”Vá, fique livre, eu não existo mais!”.
Continua...